Questões Filosóficas III

 

1) Por que é importante diferenciar a mitologia da filosofia?

 

Resposta: Porque essa questão pode se traduzir numa problemática que ainda está presente em nossos dias: o que diferencia nossa interpretação mítico/religiosa da filosófica/científica? Quais os limites de cada uma? Elas não possuem a mesma linguagem? É realmente acreditar cegamente nos mitos religiosos? É preciso comparar essas questões para repensar seus limites e refletir sobre eles para proporcionar um possível auxílio mútuo, ao até mesmo uma interdependência.

 

2) Quais são as duas teorias que tentam explicar a passagem entre mitologia e filosofia?

 

Resposta: As duas tendências expostas são: a de ruptura total entre mito e Filosofia (ideia de Hegel e J. Burnet), e a concepção de continuidade entre mito e Filosofia (proposta por Jaeger e Conford). A primeira afirma a total originalidade da Filosofia, e a segunda diz que ela apenas tem uma linguagem mais secular do que o mito, mantendo, porém, a mesma lógica.

 

3) Por que dizemos que a Filosofia nasceu na Grécia Antiga?

 

Resposta: Porque outras culturas tinham seu próprio baú de conhecimento passado pela tradição mítico/religiosa, enquanto o pensamento filosófico (nascido na Grécia) apresenta uma novidade: o conhecimento deve ser alcançado pela razão.

 

4) Isso quer dizer que outras culturas não possuíam conhecimento?

 

Resposta: Não necessariamente. Tudo vai depender do que se entender por “conhecimento”. O que acontece na Grécia é uma nova exigência para que se possa dizer que se tem conhecimento. Não basta simplesmente aderir, isto é, acreditar no mito. É preciso conhecer a causa compreensível e lógica das coisas, assim como suas essências, por meio de explicações racionais. As outras culturas têm, segundo os gregos, outro tipo de conhecimento.

 

5) O que significa dizer que na Filosofia oriental a realidade é o absoluto indeterminável?

 

Resposta: A Filosofia oriental afirma que a causa de tudo é o absoluto indeterminável. Isso tem algumas conseqüências: primeiro, a causa de tudo é indeterminável e, portanto, não conhecível. Segundo, ela é a única realidade legítima, todo o resto é uma ilusão de realidade. Se é indeterminável é impossível ser dita ou conhecida pelo pensamento. Assim, para a Filosofia oriental, a realidade dos fenômenos, do dia a dia, não é cognoscível. Isso limitaria bastante o estudo científico do mundo.

 

6) O que, segundo Hegel, há na Filosofia ocidental que não há na oriental?

 

Resposta: Para Hegel, a Filosofia ocidental, por sua vez, pensa que a causa primeira, cognoscível ou não, gerou o mundo dos fenômenos como algo diferente de si mesmo e totalmente compreensível. Em outras palavras, os universos dos seres, dos fenômenos das coisas são parte integrante dessa realidade primeira e podem ser determinados, nomeados e conhecidos. Assim, a atitude filosófica/científica parte em busca de conhecê-los. Admitir que os fenômenos, mesmo sendo diferentes da causa primeira, são conhecíveis seria, para ele, a principal diferença entre Filosofia oriental e Filosofia ocidental.

 

7) Qual a posição de John Burnet em relação à questão do mito e da filosofia?

 

Resposta: J. Burnet afirma a completa originalidade do pensamento filosófico com relação à mitologia. Porque a Filosofia exige uma comprovação de fatos, exige explicação por causas, e não necessita de crença nem de uma história. Ao caráter pioneiro grego, que envolvia espírito de observação e elucubração de argumentos, Burnet aplica o caráter único da Filosofia.

 

8) Por que diz o autor Jaeger que já na mitologia havia um certo tipo de razão?

 

Resposta: Para esse autor, a Filosofia empresta a lógica mitológica da explicação do surgimento e características das coisas, mas lhe dá um acabamento científico/filosófico. Nesse caso, há mais uma mudança de linguagem do que necessariamente uma ruptura completa.

 

9) O que quer dizer logos?

 

Resposta: Pensamento, inteligência, razão, faculdade de raciocinar, fundamento, causa, princípio, motivo, razão de alguma coisa, assim como “discurso racional”.

 

10) Você leu que “a razão é o critério de verdade, acima da crença ou da revelação mística/poética e da tradição”. O que isso significa?

 

Resposta: Para a Filosofia nascente, um conhecimento autêntico só vai ser aquele que passar por certas condições. Na Filosofia, a razão é condição legítima para que algo seja considerado verdade. Não é, pois, pela crença que se verifica a autenticidade de uma afirmação, mas sim pela investigação de seu caráter lógico.

 

11) Comente sobre a relação entre polis e o início da Filosofia.

 

Resposta: A exigência da discussão pública forçava o uso mais rígido e racional da linguagem, que pode ter espaço aberto para Filosofia, visto que ela também faz uso de uma mesma rigidez racional. O governo feito por uma sociedade de iguais faz o grego procurar respostas em si mesmo, não em uma única figura de sabedoria. Essa autonomia também pode ter criado condições para a reflexão filosófica, pois parte-se do princípio que pensar por si mesmo é essencial e que não se deve esperar por uma resposta pronta vinda de alguém.

 

12) Por que a criação da lei se aproxima do pensamento filosófico?

 

Resposta: “... ao afirmar que todos são iguais perante a lei chega-se à conclusão de que todos estão livres e aptos a pensar por si mesmos, desde que usem de uma reflexão rigorosa, para tentar encontrar conhecimento. O filósofo ocidental, então, não é mais um sacerdote, mas sim um homem público”.

 

13) O que significa dizer, na filosofia de Heráclito, que “tudo é um?

 

Resposta: A afirmação quer dizer que do choque entre pares de opostos resulta uma harmonia. O Ser é vir a ser, ou seja, é formado pela dualidade. Não há como existir algo sem o seu par, por exemplo, o quente só faz sentido porque existe o frio.

 

14) O que Heráclito quis dizer com “tudo flui”?

 

Resposta: A afirmação aponta o caráter de eterna mudança que se pode perceber no mundo por meio dos cinco sentidos. Nascimento, crescimento, envelhecimento e morte são um dos aspectos da eterna mudança que podemos presenciar no mundo.

 

15) Explique como dois princípios, aparentemente contrários, como “tudo flui” e “tudo é um” convivem na Filosofia de Heráclito.

 

Resposta: É na composição de opostos que também encontramos a origem eterna do movimento das coisas, “tudo é um” quer dizer que a unidade primordial é múltipla, contraditória como uma guerra, tensão ou luta que vemos no mundo onde “tudo flui”. Em outras palavras, o movimento de mudança dos opostos (“tudo flui”) na verdade revela uma harmonia entre eles, fazendo deles apenas um (“tudo é um”).

 

16) Como explicar a expressão “a guerra é o pai de todas as coisas”?

 

Resposta: Nosso universo é composto de opostos: vida e morte, guerra e paz, quente e frio, alto e baixo, belo e bizarro; porém essa dualidade não revela desarmonia. De fato, é por meio desse fluxo de opostos, por meio da guerra entre eles é que a harmonia se realiza no mundo.

 

17) O que é sabedoria para Heráclito?

 

Resposta: Para Heráclito, sabedoria é procurar a razão das coisas que se esconde numa harmonia invisível, ou seja, é ir atrás daquilo que faz das coisas serem como são. Não é uma sabedoria humana, mas divina, já que está além do universo visível.

 

18) O que significa dizer, na filosofia de Heráclito, que devemos ouvir o logos?

 

Resposta: “Para compreender a harmonia do mundo é preciso compreender o logos. De fato, qualquer conhecimento humano é pífio se não se conhece essa ideia primordial. Não temos de dar ouvidos ao que os homens dizem, nem exatamente ao que Heráclito disse, mas sim ao logos, que fala por meio dele”. Devemos ouvir o logos, uma verdade racional que se comunica conosco.

 

19) O que Parmênides quer dizer com a “Via da Verdade”?

 

Resposta: Com a “Via da Verdade”, parte do poema “Sobre a Natureza”, Parmênides quer transmitir as características e as condições necessárias do ser.

 

20) Qual o sentido, na filosofia de Parmênides, da expressão “Via de Opinião”?

 

Resposta: “Vias de Opinião” é a falsa compreensão do mundo: aquela que pensa que o ser é mutável e que se confunde com o perene fluxo das coisas que se podem ver por meio dos sentidos.

 

21) Qual era a ideia principal que Parmênides pretendia determinar com sua Filosofia?

 

Resposta: Parmênides pretendia determinar as condições necessárias e verdadeiras para que fosse possível compreender corretamente o que é o ser. Num sentido mais específico. Parmênides contradizia a ideia de Heráclito, que propunha, aparentemente, o contrário do primeiro. Se este afirmava que a essência do ser é o vir a ser, aquele estabelece uma lógica rígida para apresentar o ser como, entre outras coisas, aquilo que justamente não muda: é eterno, imutável, contínuo, pleno.

 

22) Explique o que é a “Via da Verdade”  e a “Via de Opinião” e como essas duas se relacionam.

 

Resposta: “A Via da Verdade” é a parte do poema de Parmênides que trata sobre o que é o ser e quais são suas condições necessárias para a existência deste. “A Via da Opinião” é a parte do poema que alerta para a falsa compreensão do mundo: aquela que pensa que o ser é mutável e que se confunde com o perene fluxo das coisas que se pode perceber por meio dos sentidos. Desse modo, as duas relacionam-se à medida que os sentidos apresentam uma visão de mundo que deve ser relida pelo pensamento. Se os sentidos mostram que tudo muda, o intelecto deve saber superar essa ilusão porque o próprio intelecto diz que o ser, necessariamente, deve ser diferente daquilo que vemos.

 

23) O que significa dizer, na Filosofia de Parmênides, que “pensar e ser” são a mesma coisa?

 

Resposta: Significa dizer que há uma identificação entre o pensamento e a realidade. O que é real pode ser pensado. Aquilo que é dito e pensado deve, necessariamente, ser real; seria impossível falar e pensar algo que não seja.

 

24) Comente a contribuição da Filosofia de Parmênides no que se refere aos critérios do ser.

 

Resposta: A contribuição de Parmênides foi decisiva, pois elucida o que deve ser o ser para que este seja autêntico. De certa maneira, o filósofo estabeleceu a regra do jogo para a busca da verdade. Claro que não previu suas consequências, mas deixou um legado lógico que teve muita influência para a história do pensamento a partir de então.

 

25) Qual foi a grande questão que Parmênides deixou quando estabeleceu a diferença entre ser e o não ser?

 

Resposta: A grande questão deixada por Parmênides está na diferença entre ser e não ser, que se refere diretamente à diferença entre verdade e aparência. A verdade, a partir de então, é colocada num contexto no qual é o oposto da mentira e que está por detrás das aparências dos fenômenos. Do mesmo modo, como o critério da verdade é muito bem estabelecido, a diferença fica colocada entre essa apreensão da verdade em oposição ao “conhecimento” da opinião. Se a primeira deve ter critérios rígidos para ser considerada como tal, a segunda só tem cidadania no universo subjetivo.

 

26) Explique quem eram os Sofistas.

 

Resposta: Os sofistas eram eruditos – possuíam vasto conhecimento cultural sobre uma gama de assuntos. Eles possuíam a arte da argumentação e da persuasão, ou seja, sabiam falar em público e faziam com que o público fosse dominado pela sua fala, pela sua postura, pela ideia que estavam defendendo.

 

27) Cite duas características do diálogo socrático e explique-as.

 

Resposta:

 

Ironia: Sócrates fazia comentários sobre as respostas que lhe eram dadas. É dito “ironia” porque Sócrates coloca-se na posição daquele que está esperando avidamente pelo conhecimento do seu interlocutor (aquele que se julga sábio). Contudo, isso é apenas uma artimanha para que se possa perceber, por meio das perguntas de Sócrates, que a sabedoria que o interlocutor supunha ter é, na verdade, falsa.

 

Maiêutica: por meio de perguntas, Sócrates começa a indicar caminhos para que o interlocutor descubra o conhecimento por si mesmo.

 

 

28) Para Sócrates, o que é a Filosofia?

 

Resposta: Para Sócrates, a Filosofia é uma dedicação plena numa jornada rumo à sabedoria.

 

29) Qual o sentido das expressões: “Só sei que nada sei” e Conhece-te a ti mesmo”?

 

Resposta: A expressão “Só sei que nada sei” explora que ter sabedoria não é pensar que se sabe de alguma coisa, mas compreender sua própria ignorância no que tange conhecer a verdade (a sabedoria não é ter a verdade, mas procurá-la incessantemente). A expressão “conhece-te a ti mesmo” explora justamente a busca pela verdade. Primeiramente, é preciso reconhecer que não se tem a verdade e comprometer-se com sua busca.   

 

30) Sócrates discordava das leis de Atenas?

 

Resposta: Sócrates não discordava das leis, ele as respeitava, mas não como os juízes (não aceita as lei como hábito ou tradição). Sócrates, por ter se colocado no exercício da Filosofia, entrega-se à busca das verdadeiras razões para se compreender o que é uma lei e o que é uma virtude para verdadeiramente segui-las.

 

31) Explique a seguinte sentença: Uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida.

 

Resposta: “A vida na refletida não vale a pena ser vivida” significa que a verdade quando descoberta por si mesmo é autêntica, conduzindo à autonomia de pensamento, isto é, a Filosofia é uma atitude prática perante si mesmo, os outros e a vida, é uma postura que exige dedicação e compromisso pela busca incessante de verdade. Esse é, então, o sentido de outro adágio socrático.

 

32) O que pensava Sócrates sobre a possibilidade de se ensinar a verdade?

 

Resposta: Sócrates não acredita no ensinamento da verdade, mas pensa que ela está dentro de cada pessoa, esperando por uma decisão para que possa vir à tona. Na Filosofia socrática, obter conhecimento não é encontrar algo totalmente novo, é recordar conteúdos de verdades já existentes dentro de cada pessoa, então, não há aprendizado, mas apenas recordação.

 

33) Qual a relação entre o pensamento de Sócrates e de Platão?

 

Resposta: Platão herda de Sócrates a oposição estabelecida por este entre a verdade e a opinião, fazendo da primeira todo o objetivo da atividade filosófica; o que faz com que os dois compartilhem a crítica aos sofistas. O diálogo socrático também é assumido pelo pensamento platônico, mas é desenvolvido com outras significações. Se em Sócrates era um exercício de ironia e maiêutica, para Platão o diálogo se estabelece como um processo dialético da compreensão da verdade, então podemos dizer que Platão assume uma posição concentrada na descrição epistemológica de seus objetivos.

 

34) Podemos dizer que a filosofia de Platão faz reflexão sobre a decadência da democracia de Atenas? Justifique.

 

Resposta: Platão pensa que fazer uso do logos apenas para convencer uma plateia sobre qualquer postura, como acontecia na democracia, em vez de sair em busca da verdade é uma das causas principais do fracasso do regime. Para ele, é imprescindível, portanto, fazer com que a Filosofia seja usada para que a cidade possa ser bem conduzida.

 

35) Por que, segundo Platão, o conhecimento das coisas sensíveis não é o suficiente?

 

Resposta: Porque Platão parte da lógica estabelecida por Parmênides, na qual só há conhecimento daquilo que é, ou seja, conhecer é conhecer a essência de determinada coisa. A essência, para ser conhecida, deve ser permanente. Desse modo, o mundo sensível, por estar em constante mudança, não pode oferecer atributos suficientes para que o conhecimento se estabeleça.

 

36) Explique o que é a Forma/Ideia de Platão.

 

Resposta: O conceito de Forma, ou Ideia, refere-se à coisa em si mesma – o ser destituído de todo o seu caráter sensível e imperfeito, possuindo apenas sua essência  inteligível.

 

37) Como é descrita a realidade no  mito da caverna?

 

Resposta: A realidade é descrita como aquilo que está fora da Caverna. Metaforicamente isso quer dizer que ela está além do mundo percebido por meio dos sentidos.

 

38) Por que o prisioneiro deve voltar à caverna?

 

Resposta: Voltar à caverna significa contar a boa nova para os que ainda são prisioneiros. O retorno à caverna é o símbolo da Filosofia platônica no que tange a necessidade da existência do filósofo para ajudar as pessoas a sair da ignorância dos sentidos por meio do uso da dialética.

 

39) Qual era o foco da crítica de Aristóteles à Filosofia de Platão?

 

Resposta: Aristóteles focava sua crítica na noção dualista (mundo sensível versus mundo inteligível) que Platão tinha em sua teoria do conhecimento.

 

40) Qual é o sentido da sentença aristotélica: o ser se diz de várias formas?

 

Resposta: A sentença quer dizer que existem várias maneiras de se usar a palavra “ser” para se referir ao ser. E, além disso, as quatro causas do ser (material, formal, eficiente e final) somadas respondem à pergunta “O que é tal coisa?”

 

41) Explique melhor a crítica de Aristóteles ao dualismo platônico.

 

Resposta: Ao criar um mundo da Ideias separado do mundo sensível, Platão simplesmente duplica o problema. Não explica nem o mundo sensível, nem o inteligível e muito menos a relação que esses dois mundos supostamente estabelecem um com o outro. 

 

42) Qual foi o equívoco, segundo Aristóteles das filosofias anteriores com relação ao uso da palavra “ser”?

 

Resposta: Podemos dizer que a crítica de Aristóteles e também dos pré-socráticos tem foco no uso do verbo “ser”, que produziu confusão com relação a certas definições. Para ele, a  linguagem da palavra “ser” precisa mais uma vez ser esclarecida, pois a falta de clareza do seu uso e sentido determinou uma série de problemas filosóficos até então.

 

43) O que é o conceito de substância na Filosofia Aristotélica?

 

Resposta: A nova metafísica baseia-se na existência da substância individual, que reúne todas as características necessárias, passíveis de conhecimento, evitando assim o dualismo platônico, fazendo da realidade o conjunto de indivíduos (substâncias) concretos. A substância é o ser que é formado por dois elementos: matéria e forma.

 

44) Por que podemos dizer que a filosofia de Aristóteles é mais aproximada do mundo sensível do que a platônica?

 

Resposta: Aristóteles não pensava que o mundo sensível queria nos enganar. É na experiência do mundo sensível que estão os seres que devemos compreender. As sensações portanto, são ferramentas importantes do conhecimento, então a sensibilidade não deve ser descartada, pois é por meio delas que poderemos encontrar a essência das coisas.

 

45) Explique os conceitos de matéria e forma. Eles podem existir separadamente?

 

Resposta: A matéria permite que a substância possa ser um indivíduo separado do todo, portanto a matéria é o princípio de individuação e a forma pela qual o indivíduo se manifesta. Contudo, esses dois princípios são indissociáveis porque não há matéria sem forma, como não há forma sem matéria. A matéria, então, manifesta-se no mundo com uma forma específica. A forma, por sua vez,  sempre se manifesta com alguma matéria.

 

46) O que quer dizer a expressão, o homem é um animal político?

 

Resposta: O homem só realiza sua natureza essencial no convívio e na relação política com os seus pares na cidade (pólis).

 

47) Qual é o sentido da catarse na filosofia de Aristóteles?

 

Resposta: A catarse, na Filosofia de Aristóteles, tem efeito purificador, vivenciado pelo espectador ao presenciar os sentimentos das personagens da tragédia. Dessa maneira, ao sentir o que é representado, aprende-se sobre os sentimentos e tem-se a possibilidade de amadurecimento. Em outras palavras, catarse é reviver sentimentos por meio da arte para que possamos nos purificar deles.

 

48) Por que podemos dizer que a filosofia de Santo Agostinho é um platonismo cristão?

 

Resposta: Porque Santo Agostinho apropria-se de algumas idéias platônicas, mas as adapta à luz da revelação cristã. Um exemplo seria a teoria da reminiscência de Platão transformada em teoria da iluminação divina.

 

49) Por que podemos dizer que a filosofia de São Tomás de Aquino é um aristotelismo cristão?

 

Resposta: Porque São Tomás de Aquino baseia-se em vários princípios aristotélicos para explicar questões relativas à revelação cristã. Por exemplo, nas cinco vias de provas da existência de Deus, são usados conceitos aristotélicos de potência e ato, contingência e necessidade, causa eficiente e causa final.

 

50) Explique a relação entre o cristianismo e a Filosofia grega.

 

Resposta: Os pensadores cristãos tinham como objetivo interpretar a Filosofia grega à luz das Sagradas Escrituras, ou seja, o pensamento filosófico deveria estar de acordo com a verdade revelada pela Bíblia. Não era, portanto, uma justificação da religião pela Filosofia, mas uma justificativa da Filosofia pela religião.

 

51) Explique o conceito de iluminação na teoria de conhecimento de Santo Agostinho.

 

Resposta: O conceito de iluminação afirma que o signo linguístico é simplesmente uma convenção arbitrária, que pode variar de cultura para cultura, de tempos em tempos. Assim, signo não é a própria coisa. Partindo dessa ideia, Agostinho vai dizer que quando compreendemos uma lição por meio das palavras, não são elas que compreendemos, mas a verdade à qual elas se referem. Ora, mas se essa verdade não está na palavra, estará onde? Agostinho dirá: no interior da alma. [...] a verdade interior é o próprio Cristo que ilumina  a alma humana para empreender a compreensão. A alma humana possui, assim, uma centelha divina que lhe permite compreender a verdade.

 

52) Cite alguma influência aristotélica nas cinco provas da existência de Deus em Tomás de Aquino.

 

Resposta:

 

A Primeira via utiliza o argumento do movimento, inspirado em Aristóteles  (Física VIII).  O argumento do movimento baseia-se na passagem entre potência e ato. Só o que existe em ato pode fazer com que uma coisa passe de potência para ato.

 

A Segunda via é o argumento da causa eficiente. Correspondente ao argumento anterior, nada pode ser a causa eficiente de si mesmo. Algo sempre deve ser a causa eficiente de algo. Porém, há um momento em que algo deve ser sua própria causa e a causa das outras coisas, senão faríamos uma regressão no infinito. Assim, é necessário que haja uma causa eficiente primeira, que é Deus.

 

A Terceira via ou Argumento cosmológico. Usa as noções de contingência e necessidade de Aristóteles. Percebemos a contingência na natureza, ou seja, as coisas que são de uma maneira podiam ser de outra. Entretanto, nem tudo pode ser contingente; visto que o universo existe, é preciso haver algo que o criou. E esse algo não pode ser contingente, mas necessário. É  preciso haver o Ser necessário, produtor da necessidade: Deus.

 

A Quarta via é o argumento dos graus existentes das coisas. Todas as coisas que têm uma característica, uma propriedade, um predicado caracterizam-se por um termo comparativo: isso é maior do que aquilo, ou isso é menor do que aquilo. É preciso, contudo, existir um termo perfeito, imutável, do qual parta essa comparação. Deus é o ser perfeito, ou seja, o máximo da realização das características, das propriedades e dos predicados.

 

A Quinta via é o argumento teológico. Este argumento faz uso da noção de causa final de Aristóteles. Deve haver uma finalidade na natureza, visto que, se não houvesse, o universo não tenderia para o mesmo fim ou resultado. Deus é a causa inteligente dessa determinação.  

 

53) Para São Tomás de Aquino, a existência de Deus é autoevidente? Justifique.

 

Resposta: Para São Tomás de Aquino, a existência de Deus não é evidente porque não conhecemos diretamente a essência de Deus, logo ela não é autoevidente. Portanto:

 

1) não se tem  conhecimento autoevidente de Deus. O que há é um conhecimento confuso na existência de Deus.

 

2) a passagem da compreensão do entendimento de Deus para a existência de Deus não é correta, porque o argumento é circular – pressupõe o que quer demonstrar. Além disso, a existência do que existe no intelecto é diferente do que existe na realidade.

 

3) a existência da verdade geral, de fato, é autoevidente. Mas, a existência de uma verdade específica, como o conhecimento de Deus, não é. Além disso, de acordo com Aristóteles, não se pode pensar no oposto do que é autoevidente. Entretanto, pode-se pensar no oposto da existência de Deus.

 

 

54) Podemos conhecer a essência de Deus, segundo São Tomás de Aquino?

 

Resposta: Não podemos conhecê-la, pois a partir do conhecimento dos efeitos finitos não é possível conhecer a essência da causa infinita, que é Deus. Do finito não se pode conhecer o infinito.

 

55) Exatamente por meio do que se pode provar a existência de Deus, segundo São Tomás de Aquino? Quais são as consequências desse pensamento?

 

Resposta: Pode-se provar a existência de Deus por meio de Suas Obras. São Tomás de Aquino legitima o conhecimento do mundo sensível.

 

56) Por que podemos dizer que, com o pensamento de Descartes, temos o início da Filosofia Moderna?

 

Resposta: Porque Descartes reuniu algumas propriedades básicas desse novo pensamento moderno que estava nascendo, como a ruptura com a tradição, valorizando o que é novo; a crença no poder crítico da razão humana para compreender o ser humano e o universo; e a ideia de progresso como ideia orientadora da Filosofia, ou seja, com o progresso colocado nas mãos da razão, a humanidade forçosamente se beneficiará do que a Ciência e a Filosofia podem produzir.

 

57) Qual o objetivo do método da filosofia de Descartes?

 

Resposta: O método da Filosofia de Descartes é educar a racionalidade para que ela possa garantir conhecimento. O método é o que guiaria a razão humana, tirando-a do caminho do erro e garantindo que ela possa compreender a verdade.

 

58) Qual a relação entre Descartes e a tradição filosófica?

 

Resposta: Descartes pensava que a tradição filosófica produzida até então não era capaz de estabelecer conteúdos seguros de verdade. A tradição filosófica não proporciona conhecimento claro e evidente; ela é dubitável e, portanto, deve ser descartada.

 

59) Segundo Descartes, onde podemos encontrar um fundamento seguro para o conhecimento?

 

Resposta: Podemos encontrar um fundamento seguro para o conhecimento dentro de nós mesmos, pois o homem traz dentro de si um princípio de racionalidade capaz de obter conhecimento seguro sobre si mesmo e sobre o  mundo.

 

60) Explique o que quer dizer “Penso, logo existo”.

 

Resposta: Se duvido, então, quer dizer que penso. Forçosamente, isso faz com que eu tenha certeza de minha existência. Porque, se duvido, eu penso, e se penso, logo, eu existo.

 

61) Por que Descartes considera necessário superar o ceticismo?

 

Resposta: Porque é preciso encontrar um ponto de partida para todo o conhecimento que refutaria o ceticismo; caso contrário, Descartes não poderia estabelecer princípios verdadeiros para sua ciência.

 

62) Uma das consequências da Filosofia é o solipsismo. Explique o que significa esse conceito.

 

Resposta: Solipsismo é a impossibilidade de conhecer algo que não seja a si mesmo.

 

63) O que quer dizer “princípio de correspondência?

 

Resposta: Princípio clássico da correspondência é a garantia da relação entre ideia e seu objeto correspondente no mundo externo à mente.

 

64) Por que é preciso, na filosofia de Descartes,  provar a existência de Deus?

 

Resposta: Colocando tudo em dúvida, inclusive o mundo exterior, Descartes estabelece o “eu penso” como a primeira verdade segura. A partir dessa primeira verdade, o filósofo quer recuperar a certeza das outras que tinha colocado em dúvida no início. Assim, ao tentar recuperar a certeza que existe o mundo exterior, Descartes lança mão do argumento da existência de Deus para garantir que o mundo existe. O “eu penso” está isolado em si mesmo e não há nenhuma ponte entre ele e o mundo. Contudo, ao fazer uma análise da ideia de Deus, Descartes chega à conclusão de que Deus de fato existe. E se Deus existe, sendo Todo Poderoso, pode garantir a existência do mundo exterior, algo impossível para o sujeito fazer sozinho.

 

65) O que quer dizer empirismo?

 

Resposta: O empirismo é uma Filosofia cuja teoria do conhecimento coloca a experiência como único critério de verdade.

 

66) Qual a importância do empirismo com relação às novas descobertas e pesquisas experimentais que estavam surgindo?

 

Resposta: As grandes descobertas e pesquisas experimentais estavam diretamente ligadas à postura empirista, pois esta diz que é essencial a experiência, sendo o método experimental importante para a obtenção do conhecimento.

 

67) Segundo Francis Bacon, qual deveria ser o objetivo da ciência?

 

Resposta: Para Bacon, a ciência deve promover o progresso da sociedade por meio do avanço técnico-científico.

 

68) Explique a Teoria dos Ídolos de Francis Bacon.

 

Resposta: Bacon está à procura de um método que possa contribuir para o avanço científico. Para isso, procura fazer uma análise de erros que podem vir a bloquear esse avanço. Essa é a análise da Teoria dos Ídolos, que recebe esse nome para simbolizar aquilo que é uma ilusão ou uma distorção da realidade.

 

69) Na filosofia de John Locke, qual é a origem da idéias?

 

Resposta: Segundo a filosofia de Locke, as representações do real, ou seja, as ideias, são derivadas das percepções sensíveis, sendo estas a única fonte para o conhecimento, que não é inato, mas resulta do modo como elaboramos as informações que recebemos da experiência.

 

70) Explique a crítica que David Hume faz à noção de causalidade.

 

Resposta: Para Hume, apenas há conhecimento daquilo dado pela nossa experiência. A causalidade, que é a ideia de que um fato necessariamente acarretou a existência de outro, era compreendida até então como algo que pertencia ao mundo. Contudo, para Hume, nós não temos a experiência da causalidade. Nós não a vemos; não temos a experiência dessa ideia, só temos a experiência de um fato após o outro. Assim, Hume dirá que a causalidade não é uma regra necessária do mundo, mas apenas um hábito criado pelo pensamento.

 

71) Por que o empirismo de Hume pode levar ao ceticismo?

 

Resposta: Porque o empirismo de Hume permite usar a probabilidade, então não podemos ter certeza, porque essa certeza não é dada na experiência. Tudo o que é dado são acontecimentos atrás de acontecimentos. Por exemplo, se até hoje algo aconteceu de tal forma, é provável, mas não é certo, que esse algo novamente aconteça.

 

72) Qual o conceito de “filosofia crítica” para Kant?

 

Resposta: A filosofia crítica não parte de nenhuma afirmação positiva do conhecimento (como no caso do dogmatismo) e muito menos de uma negativa (no caso do ceticismo). A filosofia consiste nesta atitude sistemática: em vez de considerar diretamente os objetos conhecidos, coloca-se primeiro a questão de saber como conhecemos o que podemos conhecer, independentemente da resposta que possamos obter.

 

73) Explique a revolução copernicana a que Kant se refere.

 

Resposta: Da mesma maneira que Copérnico revolucionou ao dizer que não é o Sol que gira em torna da Terra, mas a Terra que gira em torno do Sol, Kant revolucionou ao dizer que não é o objeto que determina como o sujeito  irá conhecê-lo, mas é o sujeito que determina o objeto.

 

74) Como Kant pretende superar o problema entre racionalismo e empirismo?

 

Resposta: Kant elabora um estudo sobre a estrutura e o poder da razão para determinar o que ela pode e o que ela não pode conhecer verdadeiramente, de modo a despertar do dogmatismo causado pelo racionalismo (Kant partia do princípio de que a realidade poderia ser totalmente explicada). Ainda assim, Kant não toma o partido de Hume, porque certos conceitos proibidos na filosofia de Hume, como causa e efeito, existem em Kant como condições lógicas do pensamento para se obter conhecimento e não representando algo em si.

 

75) Explique o que é a coisa em si e qual sua relação com o objeto.

 

Resposta: Para nós, o fenômeno é a coisa ou o objeto do conhecimento propriamente dito; é o objeto enquanto sujeito do juízo. O númeno é a coisa em si, ou o objeto da metafísica, isto é, o que é dado para um pensamento puro, sem relação com a experiência. Ora, só há conhecimento universal e necessário daquilo que é organizado pelo sujeito do conhecimento; nas formas do espaço e do tempo, e de acordo com os conceitos do entendimento. Se o númeno é aquilo que nunca se apresenta à sensibilidade, nem ao atendimento, mas é afirmado pelo pensamento puro, não pode ser conhecido. E se o númeno é o objeto da metafísica, esta também não é um conhecimento possível.

 

76) Explique o imperativo categórico.

 

Resposta: O imperativo categórico é princípio ético a priori determinado pela razão prática. Ele pode ser expresso das seguintes maneiras: “age de tal forma que sua ação possa ser considerada como norma universal”. E “age de tal forma que sua ação tome a humanidade como um fim e não como meio”. É por meio da obediência ao princípio ético a priori determinado pela razão prática que o sujeito pode ter uma conduta legitimamente ética.

 

77) Por que dizemos que Hegel desbanaliza a História?

 

Resposta: Podemos dizer que Hegel desbanaliza a História porque não a encara como algo óbvio, que não precisa ser estudado quando se trata de verdade, Filosofia e formação de consciência.

 

78) Qual a crítica que Hegel faz a Kant?

 

Resposta: Para Hegel, Kant coloca todo o foco na análise da razão para não cair nos mesmos erros dos filósofos anteriores que se esqueceram da verdade. Com esse receio em não errar, Kant acaba limitando o campo do conhecer. Kant também quis fazer uma análise crítica para determinar as condições de possibilidade do conhecimento. Ele necessariamente usou esse mesmo conhecimento para delimitar suas ações: então, Kant estava usando o conhecimento para criticar o conhecimento, de tal forma que já está pressuposto o que ele está querendo analisar.

 

79) Quais são as três relações que a consciência deve estabelecer para que ela se reconheça como tal?

 

Resposta: A consciência nasce em consequência de um processo de desenvolvimento que possui três dimensões essenciais: relações morais, com a natureza e com a linguagem.

 

80) Qual o sentido que Hegel dá para a palavra dialética?

 

Resposta: O sentido dado à palavra dialética é que cada consciência é a consciência do seu próprio tempo, compreende também seu lugar no processo histórico e vai também compreender a lei interna desse mesmo processo.

 

81) Explique como ocorre a dialética entre o senhor e o escravo.

 

Resposta: A dialética entre o senhor e o escravo ocorre por meio da relação entre eles, que permite que ambos sejam reconhecidos como consciência. Esse processo é dialético, pois o senhor subjuga o escravo, mas precisa dele para ser reconhecido como consciência, o que fará com que os papéis se invertam.

 

82) O que quer dizer consciência infeliz?

 

Resposta: A consciência infeliz é a infelicidade na percepção de que ela está separada do mundo. É a consciência dessa profunda e dilacerante solidão. A melancolia é o sentimento natural devido à separação da realidade a partir da dicotomia entre o sujeito e o objeto.

 

83) Por que Hegel pode dizer que todas as disputas filosóficas da história não foram sem sentido?

 

Resposta: As análises históricas empreendidas por Hegel querem demonstrar como um fato  histórico faz parte de um processo que resulta em outro. Assim, ele analisará toda a história da filosofia de Tales de Mileto até seus dias para demonstrar como cada filosofia se relaciona com a outra. Esse processo é essencial, pois permite a Hegel afirmar que todas as disputas filosóficas não foram desnecessárias, continentes e sem sentido, mas faziam parte de um processo de autoconhecimento da consciência.

 

84) O que vem a ser Dialética?

 

Respostas:

 

- É a arte de conduzir uma discussão para revelar contradição;

- É o método filosófico/científico que procura desenvolver o conhecimento por meio de perguntas;

- É o método para que a alma consiga compreender conceitualmente a realidade;

- É o método pelo qual a alma supera a divisão do mundo sensível e encontra o ser.

 

Observação: Na filosofia de Platão há a separação de dois mundos distintos quando este estabelece sua teoria do conhecimento.  

 

85) O que quer dizer a expressão de Nietzsche “filosofar com o martelo” ?

 

Resposta: É uma maneira de ilustrar a crítica aos sistemas racionais. “Filosofar com o martelo” é  identificar os pressupostos dos valores para, então, destruí-los.

 

86) O que é fenomenologia?

 

Resposta: Fenomenologia é uma corrente filosófica cujo objetivo é “voltar às coisas mesmas”. Isso significa perceber como se realiza a relação da consciência com os objetos independentemente de qualquer construção lingüística, metafísica ou teórica anterior. A fenomenologia quer voltar à experiência primordial para estabelecer conteúdos de conhecimentos.

 

87) O que são, na filosofia de Nietzsche, o espírito apolíneo e o espírito dionisíaco?

 

Resposta: O espírito dionisíaco representa a força vital, a alegria e o excesso dos homens. O espírito apolíneo representa a razão, a ordem, a medida e o equilíbrio.

 

88) Por que a crítica de Nietzsche ao cristianismo também pode ser estendida à Filosofia moderna?

 

Resposta: A crítica de Nietzsche ao cristianismo pode ser estendida à Filosofia moderna, pois ambas colocam o mundo ideal acima da realidade e a razão acima da vida. Ambas colocam valores como “verdade”, “bem”, “mal” acima da experiência humana da vida. Qualquer que seja o raciocínio, se ele tiver  a pretensão  de estar acima da vida humana, ignorando seus aspectos vitais, será totalmente despropositado.

 

89) O que pode fazer uma filosofia ser verdadeira para Nietzsche?

 

Resposta: Para Nietzsche, uma filosofia verdadeira é aquela que revela ao homem o profundo vazio presente atrás dos valores.

 

90) Por que a filosofia de Sartre exige uma concepção radical da liberdade?

 

Resposta: Porque essa exigência de liberdade radical vem da condição humana na qual a existência precede a essência. O homem não é um ser que possui uma natureza, ou uma essência anterior à sua existência, ele não tem nada para seguir ou algo que delimite o que ele irá ser. Sendo assim, o ser humano, criado sem natureza, é lançado ao mundo da liberdade, no qual  ele se manifestará a despeito de condições anteriores.

 

91) Como a liberdade se relaciona com a situação?

 

Resposta: A liberdade só se realiza numa situação concreta. Liberdade é fazer escolhas concretas, pois, para que haja liberdade, algo deve separar o ato da realização de seus objetivos, ou seja, algo deve separar o projeto de seus fins. Só há projeto porque há distância, na mesma medida em que só há liberdade se houver situação.

 

92) Explique a ideia de escolha universal e como ela se relaciona com a noção de “angústia moral” na filosofia de Sartre.

 

Resposta: “Escolha Universal” é uma expressão que representa  a seguinte reflexão: se não há natureza humana anterior à escolha, qualquer escolha que o sujeito fizer será como se ele estivesse dizendo como ele acha que deveria ser o homem. Ao escolher a si mesmo, o sujeito acabar por escolher a humanidade. A proposta ética de Sartre é fazer o sujeito se sentir responsável por todos os homens ao fazer sua escolha particular. Então, ele deverá sempre se perguntar: o que aconteceria se todos escolhessem a mesma vida que eu escolhi? Essa responsabilidade tem um peso que é denominada “angústia moral”.